sexta-feira, 2 de outubro de 2020

MAFALDA FICA! NÃO NOS DEIXES.

O texto não é meu mas é muito importante. Por isso:
"POSTAL DO DIA 

Mafalda não morreu

1.
A Mafalda não morreu. 

Muito pelo contrário. 

Precisamos da sua presença mais do que nunca, mais do que alguma vez teríamos imaginado precisar. 

Os meus filhos precisam de a ler. E os teus. 
E os filhos deles. E os filhos dos teus filhos. 

2.
Precisamos de não desistir de fazer perguntas. 
De não nos esquecermos de que tudo começa com um “porquê” ou com um “em nome de quê” ou com uma necessidade humana de colocar em causa, de não dar nada como adquirido, de combater por um mundo mais justo, menos estúpido, com pessoas menos egoístas, mais tolerantes, curiosas e corajosas. 

Mafalda não morreu – apesar de ontem ter partido o seu pai, o homem que a moldou ao que precisávamos, um argentino que influenciou Mafalda a não gostar de sopa e a reivindicar sem medo um mundo com sentido. 

“Parem o mundo que quero descer”, gritava a Mafalda. 

Também eu o grito tantas vezes.

Um mundo como este – com a massa de gente que apoia Trump, com a massa de gente que colocou Bolsonaro no poder, com os milhões de ressentidos que existem em todo o mundo e em Portugal também, gente a postos para o que der e vier mais os seus cérebros musculados de ódio. 

Não, Mafalda. 
Precisamos muito que não desças, que não desistas dos milhões que acreditam no poder das perguntas, na procura de um sentido para esta merda toda, no encontro com uma ideia de Bem, nas conversas que nos interpelam, que nos obrigam a chegar a outras perguntas que este tempo de urgências e caganças nos impede de formular. 

3.
Querida Mafalda, não morras. 

Fica. 

Queremos-te a postos. 
És o nosso exército. Enquanto Trump e todos os outros vermes se alimentam das respostas e da ausência de questionamento, enquanto vomitam o seu ódio nós alimentamo-nos do teu exemplo, da tua recusa de comer sopa porque, afinal, o que tu sempre quiseste dizer é que te recusas a qualquer forma de ditadura. 

Queremos-te a postos, és o nosso exército. 

E podes trazer a revolucionária Liberdade, o sonhador Filipe e o teu irmão Gui. Traz também a Susanita e o Manolito que te ajudam a fazer as perguntas certas e nos ajudam a nós a compreender o que realmente está em jogo. 

4.
Calculo que ainda estejas chocada com a partida do teu pai, Mafalda. 

Mas não vás já. 

Fica aqui. 

No nosso corpo, na nossa cabeça, no fio que somos.

Sei que ficarás. E sei que nos obrigarás a acreditar que o ser humano é inteligente e não um bicho de cérebro musculado de ressentimento. "