sábado, 15 de dezembro de 2007

DE VOLTA

De volta ao tempo de escrever!!!

Pelo menos assim o espero.
A margem de manobra tem sido pouca para estas coisas da escrita. A escola e o meu trabalho de investigação não me têm permitido a paz de espírito e o sossego suficiente para me dedicar a este espaço.Vem aí um período de tempo com menos trabalho (mais ou menos duas semanas) que decerto me vai permitir arrumar os papéis e as ideias de modo a deixar algum tempo para a escrita.

2 comentários:

Anónimo disse...

esta tá boa oh Zé!



O ALENTEJO


Palavra mágica que começa no Além e termina no Tejo, o rio da
portugalidade. O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do Homem
Português, fugiu de Espanha à procura do mar.

O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da
planície dão-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do
monge; as amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a
resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do
guerreiro. Não é alentejano quem quer. Ser alentejano não é um dote, é um
dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano.

Portugal nasceu no Norte mas foi no Alentejo que se fez Homem. Guimarães é
o berço da Nacionalidade, Évora é o berço do Império Português. Não foi
por acaso que D. João II se teve de refugiar em Évora para descobrir a
Índia. No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas;
só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.

Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo
das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia para D. João II perceber que
só o costado de um alentejano conseguia suportar com o peso de um
empreendimento daquele vulto. Aquilo que para o homem comum fica muito
longe, para um alentejano fica já ali. Para um alentejano não há longe,
nem distância porque só um alentejano percebe intuitivamente que a vida
não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a
tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.

Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada
decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar... E, quando regressou,
ao perguntar-lhe se a Índia era longe, Vasco da Gama respondeu: «Não, é já
ali.». O fim do mundo, afinal, ficava ao virar da esquina.

Para um alentejano, o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde
não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a
andar onde Bartolomeu Dias tinha parado. O problema de Portugal é
precisamente este: muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama.
Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, que desiste quando
a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja, muitos
portugueses e poucos alentejanos.

D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário,
não teria partido tão confiante para Aljubarrota. D. Nuno sabia bem que
uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos
combatentes. É certo que o Rei de Castela contava com um poderoso exército
composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a
vantagem de contar com meia-dúzia de alentejanos. Não se estranha, assim,
a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar
de campo com o argumento da desproporção numérica: «Vocês são muitos? O
que é que isso interessa se os alentejanos estão do nosso lado?»

Mas os alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as
grandes guerras. Não há como um alentejano para desfrutar plenamente dos
mais simples prazeres da vida. Por isso, se diz que Deus fez a mulher para
ser a companheira do homem. Mas, depois, teve de fazer os alentejanos para
que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um
alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este,
intrigado, lhe perguntou o que é que o alentejano tinha que ele não tinha:
«Tem tempo e tu tens pressa.» Quem anda sempre a correr, não chega a lado
nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher. Andar a correr é um
problema que os alentejanos, graças a Deus, não têm. Até porque os
alentejanos e o Alentejo foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia
que Deus tirou para descansar.

E até nas anedotas, os alentejanos revelam a sua superioridade humana e
intelectual. Os brancos contam anedotas dos pretos, os brasileiros dos
portugueses, os franceses dos argelinos... só os alentejanos contam e
inventam anedotas sobre si próprios. E divertem-se imenso, ao mesmo tempo
que servem de espelho a quem as ouve.

Mas para que uma pessoa se ria de si própria não basta ser ridícula porque
ridículostodos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um
extra só disponível nos seres humanos topo de gama.

Não se confunda, no entanto, sentido de humor com alarvice. O sentido de
humor é um dom da inteligência; a alarvice é o tique da gente bronca e
mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem
sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser
objecto de uma boa gargalhada. O sentido de humor humaniza as pessoas,
enquanto a alarvice diminui-as. Se Hitler e Estaline se rissem de si
próprios, nunca teriam sido as bestas que foram.

E as anedotas alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas,
incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de
observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis.

Não resisto a contar a minha anedota preferida. Num dia em que chovia
muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um
passageiro. Por sinal, um alentejano que estava todo molhado, em virtude
de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta. «Ó amigo, por que é
que não fecha a janela?», perguntou-lhe o revisor.
«Isso queria eu, mas a janela está estragada.», respondeu o alentejano.
«Então por que é que não troca de lugar?» «Eu trocar, trocava... mas com
quem?»

Como bom alentejano que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim. O
Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo
uma pessoa ficar a pão e água. Água é aquilo por que qualquer alentejano
anseia. E o pão... Mas há melhor iguaria do que o pão alentejano? O pão
alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa.
E é o único pão do mundo que não tem pressa de ser comido. É tão bom no
primeiro dia como no dia seguinte ou no fim da semana. Só quem come o pão
alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. Comê-lo faz-nos
subir ao Céu!

É por tudo isto que, sempre que passeio pela charneca numa noite quente de
verão ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de Inverno, dou graças
a Deus por ser alentejano. Que maior bênção poderia um homem almejar?

autor desconhecido

Romerix

Santana-Maia Leonardo disse...

O autor do texto "ALENTEJO" não é desconhecido.
Foi escrito por mim em 15 de Dezembro de 2005, publicado em várias revistas e jornais e faz parte do meu livro REXISTIR (http://www.editorialminerva.com/Santana-Maia-Leonardo.html), juntamente com o texto O ALENTEJANO (http://aracadoalentejano.blogspot.pt/) que também circula na net, a maior parte das vezes sem fazer referência ao seu autor.
Agradecia que fizesse a correcção.
Sei que não fez por mal mas a verdade é que há muita gente na net que gosta de fazer figura com os textos dos outros.

Santana-Maia Leonardo